Como é o empreendedorismo na saúde?
Via e vejo que cuidamos das pessoas “ao contrário”. Sabemos que o corpo é uma manifestação da consciência (Jean Watson) mas mantemos o foco no corpo. Não que o cuidar do corpo não seja fundamental mas se só atendermos ao corpo, ficamos bem longe das reais necessidades da pessoa. Somos seres holísticos, integrais e com várias dimensões:
- Física
- Emocional
- Mental
- Espiritual
- Energética
Nós, profissionais de saúde, terapeutas, cuidadores… nós sabemos disso. Sabemos e fazemos o nosso melhor. O nosso melhor no ambiente onde estamos. Reflitamos: antes de avançar para um medicamento, conseguimos ver o potencial de cura que existe quando vamos explorar qualquer uma destas áreas?
É cómodo tomar um medicamento para a dor de cabeça? É. É o melhor para o nosso Ser? Não.
É cómodo trabalhar num sítio que me garante um ordenado ao final do mês mas do qual já não me sinto nada identificada? É. É o melhor para a nossa alma? Não.
A minha alma queria voar, sonhar e construir
A alma quer que dês o teu melhor. Quer que sejas livre. Sim podes ser criativa e dar o teu melhor no sistema, eu procurei sempre dar o meu melhor. Mas o meu melhor seria muito melhor se não estivesse condicionada pelas regras do sistema.
Quando me perguntam se deixei o sistema porque estava farta de ser enfermeira, a minha resposta é sempre “NÃO!!!”. Eu adorava ser enfermeira, adorava o contacto com os utentes. Deus sabe as saudades que tenho de fazer visitas domiciliárias… mas não podia continuar.
A minha alma gritava liberdade e coerência e a minha vida material gritava reconhecimento. Sentia-me profundamente mal paga, não em comparação com outros profissionais de saúde mas em comparação com aquilo que eu dava de mim. Eu dava tanto e recebia tão pouco! Se quisesse comprar um carro teria de pedir empréstimo e ficar a pagar durante tanto tempo. Mais uma prisão!
E, nessa altura, surgiu a Arábia Saudita como oportunidade. Disse “sim” à aventura e amei! Recebia melhor e tinha mais ajuda. Ainda podia dar mais ideias e desenvolver alguns projetos. Foram 2 anos de intensidade a todos os níveis. Viajei tanto! Que luxo… e eu merecia! Sempre dei o meu melhor a cada paciente. Os meus utentes de cuidados paliativos, defendia-os como se fosse um familiar meu. Esse era o meu prazer, a minha consciência, o meu sentido de missão e coerência interna.
Mas a frustração crescia e crescia. Até na Arábia, um país tão rico, já queriam diminuir a qualidade das visitas. Menos tempo, mais utentes…
Quando questionei à enfermeira diretora a resposta foi “prioriza” e, para quem conhece a realidade da visitação domiciliária, sabe que mesmo priorizando não se dá resposta ao básico! É a gestão do regime terapêutico, é o cuidar a ferida, é a monitorização dos sintomas, é a educação à família.
Em Cuidados Paliativos, em que cada dia pode ser o último, bem… ficava louca. Só pensava: “E se fosse o meu pai ou a minha mãe? Eu não iria admitir isto.”. Então dava de mim, até ao limite, até ficar esgotada. De consciência tranquila e esgotada. Ou, então, traía os meus princípios e valores – o que cheguei a colocar em questão.
Quando somos sozinhos a preocupar-nos, às vezes é um desafio mantermos os nossos valores tão firmes como antes. O cansaço deixa-nos desmotivados. É o ciclo do sistema. Até quando?
Ser empreendedora da saúde
Não digo que não fazemos já tanto como profissionais de saúde. Aliás, conheço cada vez mais pessoas profundamente motivadas pela missão do cuidar. No entanto, o medo de arriscar e de sair do sistema é tão grande que bloqueia qualquer tentativa de sonhar mais alto. Seremos escravos do sistema? Sentes-te assim? Eu sentia-me…
O empreendedorismo não é para toda a gente. Ou será? Todos temos em nós o potencial de empreender e ser bem-sucedidos. Mas será que temos o grau de compromisso connosco mesmos que é necessário para podermos libertar-nos? Acreditamos que somos capazes? Se alguém te dissesse “Vou pagar-te o mesmo salário mas quero que desenvolvas o teu método único de acompanhamento a uma pessoa com o objetivo de chegar à cura” qual seria a tua reação? Aceitarias esse trabalho? Como se sentiria a tua alma? Se a resposta é “sim” e sentes que a tua alma iria amar essa liberdade de expansão, então é sinal que tens todo o potencial para te tornares uma empreendedora na área da saúde.
Sabes qual é o maior bloqueio que eu senti na hora de começar as minhas consultas privadas? A dificuldade em receber! A quantidade de consultas que eu fazia gratuitamente porque pensar cobrar fazia-me sentir uma culpa irracional. Era aquilo a que eu chamo o “Síndrome da Madre Teresa”: damos o nosso melhor mas não conseguimos receber no mesmo nível.
É triste porque quanto mais recebemos mais podemos dar. E se mais podemos dar, mais recebe quem está connosco. É, então, urgente curar as feridas do receber. Precisamos de aprender a auto-valorizar-nos, a reconhecermo-nos como pessoas e profissionais despertos e sensíveis, que prestam cuidados científicos e humanos.
Abre a tua mente
Quando temos realmente um problema, preferimos ir resolvendo aos poucos, muito superficialmente e ir gastando pouco a pouco o nosso dinheiro ou preferimos resolver o problema a sério mesmo que, para isso, precisemos de investir o nosso tempo e o nosso dinheiro a sério?
Eu insiro-me na segunda categoria, sem dúvida! A verdade é que não tenho muita paciência para ter problemas, se vem algum desafio, o foco é: “Como posso resolver esta situação o mais eficaz e rapidamente possível?”. Essa é a minha filosofia. Mas nem sempre é assim, claro. Há situações que a própria Vida nos apresenta para aprendermos a adquirir as competências necessárias de aprendizagem de alma (como, por exemplo, a paciência).
Mas naquilo que podemos resolver, vamos deixar-nos de sintomas de insatisfação e frustração e começar a olhar de frente para a nossa realidade! O que é que a Vida quer que eu aprenda com esta situação? Qual a minha via de desenvolvimento neste momento? Qual a maneira de chegar ao meu objetivo pelo caminho mais curto possível? Será que realmente eu posso viver a vida dos meus sonhos?
Profissionais de saúde, terapeutas, mães… Escrevi este artigo para vos ajudar a abrir a mente, para sentirem que é possível. Se eu consegui, tu também consegues e de forma mais rápida e eficaz, com certeza. Somos sábios por natureza. Aprendemos, estudamos e vamos fazendo os nossos próprios exercícios de transformação e desenvolvimento pessoal.
Tenho uma professora no doutoramento de enfermagem que afirma que os enfermeiros são os melhores coaches, uma vez que conhecem a pessoa em todos os seus processos, desde que nascem até que morrem. Eu adiantaria que qualquer pessoa em profunda conexão de si mesmo, seja em que área for, pode tornar-se um excelente acompanhante de outras pessoas.
Se é fácil e automático? Talvez. O cuidar é inato. Mas, obviamente, estamos em crescimento e estamos numa cultura que ainda confia nos títulos académicos e ainda bem. Mas, na hora de estar ao lado de outro ser humano, arrisco a dizer que a competência humana é tão ou mais importante que a componente técnica (eu sei que é polémica esta afirmação mas é apenas a minha opinião).
E, claro, as competências relacionais que qualquer profissional desenvolve, a sabedoria na ciência da comunicação e a relação humana. Eu falo da enfermagem porque é a realidade que melhor conheço…
Enfermeiros e enfermeiras deste país, a vossa sabedoria é para ser honrada, reconhecida e respeitada! Mães, como podem arranjar uma forma de ganhar dinheiro, criar o próprio emprego que vos permita estar mais perto dos vossos mais que tudo?
Consegues imaginar a liberdade e satisfação de uma vida assim?
Criar um negócio próprio: por que não?
Qual é a tua ideia original? O que tem a tua alma de especial? Consegues escutar dentro as avenidas da paixão e do entusiasmo? O que mais te dá prazer e satisfação?
A ideia é fundamental mas sozinha pode não avançar muito. Há muito a desbloquear. Eu tive de aprender sobre marketing e vendas e, atenção, há uma definição interessante sobre “vender” que diz que “vender é inspirar pessoas a agir”. Repara como uma simples alteração de conceito pode fazer maravilhas em relação a como nos sentimos face ao dinheiro. Temos, enquanto classe, uma ferida crónica em relação ao dinheiro e à valorização do nosso trabalho.
Vamos curá-la desde dentro?
A questão não está na venda mas na nossa integridade e confiança em alcançar dos resultados. É uma aventura fenomenal: aprender a escutar a alma e a viver desde esse ponto em que merecemos e em que nos comprometemos para que os nossos sonhos se façam realidade.
Essa foi a minha escolha ao longo destes últimos anos. Se me sinto enfermeira? Todos os dias! A minha missão mantém-se em dar o meu melhor e a facilitar os processos de cura e evolução das pessoas. Já não estou pressionada pelas consultas de 10 min. ou 20 min. Quem define as minhas regras agora sou eu. E os resultados não têm comparação! Que liberdade e que responsabilidade!
O compromisso que tenho comigo? Crescimento contínuo e autocuidado. Quando necessito, peço ajuda. Uma ação que parece tão simples e da qual nunca me tinha permitido usufruir enquanto trabalhava no sistema. Somos educados para pensar que sabemos tudo, estudamos e estudamos teoria, ficamos teóricos exímios e, às vezes, sabemos tão pouco da vida.
Na eminência da morte, a sabedoria que nos habita desperta mais fortemente. Recorremos a ela em períodos de escuridão, em busca de alguma luz. Mas ela está aí sempre, pronta para ser escutada, à nossa espera.
Onde te leva a tua alma?
Não te limites. Tudo se aprende. Tudo, rigorosamente tudo, se pode aprender. Rasga a tua armadura de crenças limitadoras de segurança, atravessa as tuas desculpas – que são apenas isso – desculpas e devaneios da mente para garantir uma segurança e proteção ilusória. Sabes porquê ilusória? Porque quando menos esperamos, a vida pode tirar-nos o tapete e levar-nos diretamente a lugares que passámos anos a tentar evitar.
Conhecemos tão bem esta realidade, vemo-la todos os dias nos outros e temos sempre a esperança de que seremos poupados de tudo isso (e ainda bem). Haja esperança. E também inteligência.
Pergunta-te: se eu só tivesse um ano de vida, o que é que eu faria? Como poderia deixar o meu legado no mundo? O que faz verdadeiramente sentido para mim? Qual seria a melhor versão de mim? E avança, ao teu ritmo, mas avança em direção a essa melhor versão. Com confiança. Basta dar o primeiro passo… e a Vida, a Vida real, aparece lado a lado, para nos acompanhar a cada passo do caminho. Seria tão bom se pudesses ajudar muitas mais pessoas aquelas que estás a ajudar agora.
Consegues imaginar a sensação de ajudar dezenas, centenas e milhares de pessoas?
Empreendedorismo na saúde? É o futuro.
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